quinta-feira, 21 de junho de 2012

Kia Picanto - vítima de um Brasil cruel


Pode não parecer, mas já faz seis anos que o Kia Caralhanto Picanto chegou ao mercado brasileiro. A sua primeira versão, em 2006, sofria de um caso raro de feiura agúda. O projeto ainda fazia parte da antiga geração de carros da Kia, onde o design não estava nas prioridades da fabricante.

Elegeram o mesmo designer da Kia BESTA para fazer o desenho do Picanto.

Em 2008, ele passou por um ajuste no desenho sem alterações do projeto em si, o famoso facelift. Como uma mulher feia que vai ao melhor salão de beleza do bairro, o carro melhorou bem, mas não tinha como esconder a feiura por baixo da maquiagem. Era possível perceber suas linhas quadradas, quase uma "mini-besta". Mesmo assim, por seus bons atributos, o carro teve um fluxo constante de vendas até 2011, época em que chegaria a nova geração 2012.


O Picanto na prática era um carro 1.0 com conteúdo e equipamentos de um Civic ou Corolla. Quem tinha o carro só elogiava. Era muito superior aos carros 1.0 nacionais, contando até com cambio automático como opcional, mas não se destacava em vendas pelo seu preço e principalmente pelo design ruim. Nos primeiros anos, a pouca popularidade da Kia também influenciava no número discreto de vendas.

Facelift no Picanto 2008, viu como melhorou? Acho que não, né?

No segundo semestre de 2011, uma legião de interessados já se aglomerava em fóruns pela internet, querendo saber sobre a nova geração do Picanto que chegaria em breve. Dessa vez sim, um desenho completamente inovador até para a categoria, um carro bonito, com um design que posteriormente viria a ganhar prêmios na europa.

A expectativa era muito boa, finalmente o carrinho da Kia iria deslanchar. Havia no ar a preocupação sobre o preço que o carro seria comercializado. Era bonito demais para ser vendido no preço do Picanto atual. Para a surpresa de todos, o carro não chegou tão mais caro, a Kia anunciava uma diferença de cerca de R$ 2.000,00. Nada mal pela novidade, deixando de lado o fato de que qualquer carro no Brasil é muito caro.

Quando tudo parecia muito bom, na verdade estava tudo certo pra dar merda errado, a ganância do homem reservou capítulos nessa história, para matar o sucesso do carro pela raíz.

Kia-azar!

O primeiro vilão da história foi a própria Kia e seus concessionários. Percebendo a grande procura pelo veículo logo que começaram as vendas, todas as lojas da Kia pediam R$ 4.000 ou R$ 5.000 a mais do que estava sendo anúnciado nas propagandas. Tinha desculpa do frete, taxa do porto (pois o carro é importado), taxa do café, taxa de novidade, enfim, várias desculpas para aplicar ágio sobre o preço do carrinho. Alguns clientes que queriam parecer mais inteligentes e modernos que seus vizinhos de condomínio aceitaram pagar o preço bem mais alto e outros até entraram na fila esperando nova remessa de importação.

A Kia tratando seus clientes como lixo, tornava impossível negociar o preço e muito menos fazer test-drive no veículo. Não existiam unidades disponíveis para test-drive. Quer comprar? Compra. Não quer? Algum trouxa vai comprar e pagar bem caro. A taxa TBB (taxa babaca brasileiro) estava sendo aplicada.

Brasil, um país de tolos

A tendência natural é que a procura diminuísse nos primeiros seis meses, quando o carro não fosse mais novidade e os preços se ajustariam para um valor mais "justo". É bem aqui que fomos surpreendidos novamente.

Devido ao sucesso que as marcas importadas estavam fazendo no Brasil (entregando mais conteúdo por um preço ligeiramente menor), o governo brasileiro resolveu acabar com a festa gringa, criando complicadas e burocráticas regras no IPI, o que beneficiou as fabricantes nacionais e prejudicou as fabricantes de fora do país, aumentando muito o preço do carro importado.

Brasil, um país de tolos. Do Picanto ficamos apenas com a PICA.

Esse foi o segundo golpe que o Picanto sofreu em menos de 3 meses de seu lançamento. Com o preço bem mais alto por conta de imposto, a Kia precisou reduzir um pouco a sua ganância, mas já era tarde demais. O carro que tinha tudo para ser sucesso continua até hoje com vendas pouco expressivas e custando muito caro. O primeiro ano de vendas é muito importante para ajudar no sucesso de um carro, se as vendas emplacam enquanto o carro é novidade há maiores chances do produto se consolidar no mercado.

Será que ainda existe esperança para a pobre vítima? Seria muito bom ver menos Ka, Celta, Palio, Uno, Gol, Clio, Fiesta e um pouco mais de Peniscanto Picanto nas ruas.